A ergonomia cognitiva analisa como o cérebro processa informação no trabalho — e como o desenho de tarefas, rotinas e interfaces pode reduzir erros, fadiga mental e estresse. Quando aplicada de forma prática, ela melhora produtividade, segurança e bem-estar, especialmente em ambientes com alto volume de dados, múltiplas demandas e tomada de decisão sob pressão.
Por Lucas Esteves — Especialista em Medicina e Segurança do Trabalho e Sócio da AMBRAC.
Por dentro do conceito de ergonomia cognitiva
A ergonomia cognitiva é um ramo da ergonomia focado nos processos mentais humanos — como percepção, memória, raciocínio, aprendizagem, atenção e resposta motora — e em como esses processos interagem com sistemas, tarefas e ambientes de trabalho.
Diferentemente da ergonomia física (posturas, ferramentas, movimentos e prevenção de lesões musculoesqueléticas), a ergonomia cognitiva investiga como o excesso de informação, a complexidade do trabalho e a forma como instruções e alertas são apresentados impactam o desempenho, a tomada de decisão e a saúde psicológica.
Seu objetivo é tornar a interação “pessoa-sistema” mais compatível com as capacidades humanas, reduzindo:
- Erros e retrabalho;
- Fadiga cognitiva;
- Estresse e irritabilidade;
- Lapsos de atenção;
- Decisões precipitadas ou inseguras.
Em ambientes dinâmicos, com múltiplas demandas, telas, alarmes e procedimentos, ignorar a dimensão cognitiva pode gerar perda de desempenho e, em situações críticas, elevar a probabilidade de incidentes e acidentes.
“Em muitas operações, o problema não é falta de esforço. É excesso de demanda mental sem estrutura. Quando a tarefa é mal desenhada, o risco de erro humano aumenta — e a empresa paga o custo em segurança, qualidade e saúde.”
— Lucas Esteves
Elementos centrais da ergonomia cognitiva
A ergonomia cognitiva trabalha com fatores que influenciam diretamente o desempenho mental e a segurança. A seguir, os principais elementos e como eles aparecem na prática.
Carga mental
A carga mental é o esforço cognitivo necessário para executar uma tarefa. Ela não depende apenas de “quantidade de trabalho”, mas da complexidade do raciocínio, do número de variáveis simultâneas e do nível de atenção requerido.
Quando a carga mental é excessiva e prolongada, tende a ocorrer:
- Queda de atenção;
- Lentidão no processamento;
- Aumento de falhas e esquecimentos;
- Irritabilidade, estresse e desgaste emocional.
Medidas típicas de ergonomia cognitiva para equilibrar carga mental incluem:
- Simplificação de etapas;
- Padronização de telas e formulários;
- Automação de tarefas repetitivas;
- Redução de duplicidades e retrabalho;
- Informação clara, organizada e “no momento certo”.
Atenção
A atenção é a capacidade de focar no que é relevante e bloquear distrações. Ambientes com ruído, interrupções frequentes, notificações excessivas e interfaces confusas podem reduzir foco e elevar a ocorrência de erros.
Boas práticas incluem:
- Priorizar sinais/alertas realmente críticos;
- Organizar dados em hierarquia (o essencial aparece primeiro);
- Criar padrões visuais consistentes (mesma lógica em telas e formulários);
- Reduzir interrupções desnecessárias e multitarefa contínua.
Memória
A ergonomia cognitiva considera que a memória humana tem limites, sobretudo a memória de trabalho (curto prazo), usada para manter e manipular informações durante a execução de uma tarefa.
Para reduzir sobrecarga, recomenda-se:
- Checklists e roteiros de verificação;
- Manuais de acesso rápido;
- Instruções objetivas e padronizadas;
- Interfaces que mostrem “o que fazer agora” sem exigir memorização extensa;
- Apoios visuais e modelos de preenchimento.
Tomada de decisão
A tomada de decisão, no trabalho, frequentemente ocorre com tempo curto e informação parcial. Por isso, sistemas e processos devem apoiar o trabalhador com dados claros, relevantes e no momento adequado.
Boas práticas incluem:
- Apresentação intuitiva de dados (sem excesso de campos e ruído visual);
- Regras e critérios visíveis e padronizados;
- Orientações para reduzir vieses e “atalhos mentais” que aumentam risco;
- Treinamentos direcionados à tomada de decisão em cenários críticos.
Elementos que exigem alta atenção e como reduzir risco de falha humana
Situações que demandam monitoramento constante, execução de multitarefas, leitura de telas complexas ou resposta rápida a eventos aumentam a chance de sobrecarga cognitiva. Quando a mente opera em “alerta permanente”, a fadiga aparece — e com ela, falhas.
A ergonomia cognitiva busca mitigar esse cenário com medidas como:
- Organização da informação de forma clara e intuitiva;
- Clareza de instruções e procedimentos, evitando ambiguidades;
- Redução de distrações (ruído, interrupções, excesso de alertas);
- Treinamentos específicos para priorização, foco, rotinas críticas e identificação de sinais de fadiga cognitiva.
Como implementar ergonomia cognitiva na prática
1. Mapeie tarefas críticas e pontos de sobrecarga
Identifique atividades com alto volume de informação, múltiplas telas, muitas etapas, checagens manuais e alto custo do erro. Essa é a base para priorização.
2. Simplifique fluxos e padronize rotinas
Reduza etapas, elimine duplicidades e crie padrões de execução. O objetivo é diminuir “decisões desnecessárias” e variabilidade operacional.
3. Ajuste interfaces, formulários e comunicação
Aprimore a forma como a informação é apresentada:
- Hierarquia clara (essencial primeiro);
- Campos agrupados por lógica;
- Padronização de termos e mensagens;
- Alertas objetivos e raros (somente quando realmente necessários).
4. Treine para gestão de atenção e reconhecimento de fadiga
Treinamentos devem incluir:
- Técnicas de priorização;
- Rotinas de checagem e confirmação;
- Práticas para reduzir erros em tarefas repetitivas;
- Identificação de sinais de fadiga mental e medidas de recuperação.
5. Estabeleça indicadores e melhore continuamente
Acompanhe métricas como:
- Erros operacionais e retrabalho;
- Incidentes e quase-acidentes;
- Tempo de execução e interrupções;
- Feedback de usabilidade de sistemas e rotinas.
Exemplos práticos de aplicação
Exemplo 1 — central de atendimento com alto volume de sistemas e janelas
- Padronizar telas e reduzir campos redundantes;
- Criar roteiro de atendimento e checklist de encerramento;
- Organizar scripts com “perguntas críticas” destacadas;
- Reduzir interrupções e alternância constante entre sistemas.
Exemplo 2 — operação com alarmes e monitoramento contínuo
- Classificar alarmes por criticidade e reduzir falsos positivos;
- Evitar “poluição” de alertas para preservar atenção;
- Criar padrão de resposta com passos simples e verificação final;
- Treinar cenários críticos com simulações curtas e repetidas.
Exemplo 3 — equipe administrativa com excesso de retrabalho e validações
- Revisar fluxo para remover duplicidades;
- Automatizar validações simples e repetitivas;
- Criar modelos de preenchimento e instruções visíveis no ponto de uso;
- Aplicar checklists para reduzir falhas por memória de trabalho.
FAQ – principais dúvidas sobre ergonomia cognitiva
Ergonomia cognitiva é a mesma coisa que ergonomia física?
Não. A ergonomia física foca em postura, força, movimentos e prevenção de lesões corporais. A ergonomia cognitiva foca em atenção, memória, carga mental e tomada de decisão.
Quais sinais indicam sobrecarga cognitiva no trabalho?
Aumento de erros, lapsos de atenção, irritabilidade, fadiga mental, retrabalho, dificuldade de concentração e queda de desempenho em tarefas simples.
Ergonomia cognitiva pode reduzir acidentes?
Sim. Ao melhorar clareza de processos, priorização de alertas e compatibilidade entre tarefas e capacidade humana, reduz-se a probabilidade de falhas humanas e decisões inseguras.
O que pesa mais: treinamento ou melhoria de processo/interface?
Os dois são necessários, mas processos e interfaces bem desenhados reduzem a necessidade de “compensação” humana. Treinamento sem ajuste do sistema costuma ter eficácia limitada.
Como medir se a ergonomia cognitiva está funcionando?
Com indicadores: redução de erros e retrabalho, menos incidentes, menor tempo de execução, melhor usabilidade percebida e maior consistência operacional.
Ergonomia cognitiva ajuda a prevenir burnout?
Ela reduz estressores relacionados ao trabalho (sobrecarga, ambiguidade, pressão cognitiva constante), o que contribui para melhor saúde mental. Porém, burnout é multifatorial e exige abordagem integrada.
Por onde começar em empresas pequenas?
Mapeie tarefas críticas, simplifique rotinas, padronize instruções, implemente checklists e ajuste o excesso de interrupções e demandas simultâneas.
Conclusão
A ergonomia cognitiva amplia a visão de SST ao reconhecer que o desempenho e a segurança dependem também do “trabalho mental”. Ao otimizar tarefas, interfaces, comunicação e treinamentos, as empresas reduzem erros, melhoram produtividade e fortalecem a saúde mental dos colaboradores.
Como a AMBRAC pode apoiar sua empresa
Diagnóstico ergonômico com foco cognitivo
- Mapeamento de tarefas críticas e sobrecarga mental;
- Análise de rotinas, procedimentos, comunicação e interfaces;
- Identificação de pontos de falha humana e risco operacional.
Programas e treinamentos sob medida
- Treinamentos de gestão de atenção e priorização;
- Padronização de procedimentos e checklists;
- Capacitação de lideranças para reduzir estressores e melhorar clareza operacional.
Integração com SST e conformidade
- Apoio a programas e rotinas de SST com abordagem preventiva;
- Recomendações práticas para reduzir retrabalho e falhas;
- Planos de melhoria contínua com indicadores e acompanhamento.
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